Eram cinco da manhã quando, com um grande e doloroso esforço, me arrastei de cansaço de modo a iniciar o processo de preparação final para a partida: tomar banho, vestir, fechar as malas e sair de casa.
Pouco depois a Andreia chegou a minha casa igualmente pronta para a viagem, e quando digo igualmente posso dize-lo literalmente, pois curiosamente estava-mos com casacos iguais (os mais quentes que encontrámos á venda).
Estava um frio de rachar e ainda não se via nenhum raio de luz no céu, quando partimos para o aeroporto. Deixámos casa, família, amigos, namorados e tudo o que nos é familiar para trás... A partir de agora só podemos contar com o apoio uma da outra.
Já no aeroporto tratámos de tudo sem problemas, penso que a única dificuldade foi eu conseguir passar pelo detector de metais. Como era de esperar eu tinha que apitar. Provavelmente devido a algum pequeno pormenor como: cinto, pulseiras, alfinetes nas calças ou até mesmo piercings (o que é menos plausível). Quando a rapariga que estava a revistar reparou nisso tudo, limitou-se a rir e a deixar-me passar.
O mais estranho foi o facto da minha mala não exceder os 15 quilos que eram estipulado como peso máximo permitido, na verdade tinha apenas 13 e qualquer coisa. Se eu soubesse... Não sei como isso foi possível porque a mala vinha completamente cheia, de tal modo que eu mal conseguia pegar nela.
Quando finalmente (depois de duas horas a passar por todos os processos necessários) avistámos o avião, foi então que compreendi a expressão “viagem barata”. Era provavelmente o avião mais pequeno que alguma vez vi, o que me fez questionar a qualidade do voo. Não levei muito tempo a receber resposta e posso explicá-la com uma citação inquietante da Andreia, “o avião tremia por todos os lados”.
Durante a viagem não pensei muito nisso, até considerei uma viagem bastante rápida e relaxada, talvez pelo facto de ter aproveitado para dormir o tempo todo.
Chegando a Inglaterra estávamos a contar com uma boleia para a cidade que infelizmente acabámos por não ter. Compramos, então, bilhetes para um autocarro da Terravision, que fazia ligação do aeroporto para Victoria Stantion em Londres. Provavelmente uma longa viagem, mas quando acordei já estava a chegar.
Agora em Victoria Stantion já passava das 3 p.m. (como dizem os ingleses), e era altura de tomar decisões.
Tínhamos uma reserva para duas noites, que eu fizera antecipadamente, numa pousada da juventude internacional em South Kensington. No entanto, esta só estava guardada até ás 3 p.m., por regras do estabelecimento. Contudo achei que a atitude mais correcta seria dirigir-nos ao local e tentar assegurar um quarto.
A Andreia não partilhava da mesma opinião e sugeriu irmos directas à universidade e pedir ajuda para encontrarmos um local mais perto e mais barato. Bem, foi isso que acabámos por fazer.
Encontrar o autocarro certo pareceu mais complicado do que aquilo que realmente foi, pois em Londres as paragens de autocarro têm todas informação muito clara de quais são os autocarros que passam e que caminho percorrem. Contudo, como é a primeira vez e ainda tudo parece muito estranho optámos por um modo mais primórdio mas muito funcional, perguntar!!!
Foi exactamente da mesma forma que descobrimos onde se comprava bilhetes, o que é um pouco diferente que em Portugal, é realmente muito mais fácil. Não se pode comprar os bilhetes no autocarro mas existem na maioria das paragens maquinas de venda e ainda estão á venda bilhetes e todo o tipo de passes em qualquer Shop. – Uma Shop é normalmente uma mistura de pequena mercearia com papelaria, tabacaria e ainda podemos encontrar à venda cartões para telemóvel ou telefones públicos. Estas lojas existem por todo o lado, em grandes quantidades.
Chegámos finalmente a Camberwell College of Arts (CCA) que se encontra a meio da Peckham Road. Conhece-mos então o Patrick Roberts, coordenador do curso de Graphic Design. Este é uma personagem semelhante ao nosso já conhecido Steven. Tem um ar um pouco aluado, mostrou-se uma pessoa de boas intenções mas não consegue ajudar em nada. Bem, neste momento eram 5 p.m. e a escola estava praticamente vazia, o que me parece um pouco estranho. Parece que a esta hora já ninguém se encontra a trabalhar.
Conclusão a nossa viagem á escola foi em vão, pois ninguém conhecia nada que nos pudesse indicar. Foi então que percebi que devia dar mais ouvidos a mim própria e arrependi-me de não ter ido antes à pousada em primeiro lugar.
O cenário da nossa situação não caminhava para o agradável. Era de noite e estávamos sozinhas numa cidade estranha sem ter onde ficar.
Como obriga a situação, tivemos de ser pessoas desenrascadas, o que ao que parece é uma característica portuguesa. Voltamos então ao ponto de partida, acedemos à internet num dos computadores da escola, em busca de pousadas.
Foi ai que encontrámos o Dover Castle Hostel, uma pousada barata que se encontrava em Borough. Dirigimo-nos então para lá a arrastar as malas monstruosamente pesadas, as quais aumentavam de peso a cada passo que dava.
O Hostel (pousada) encontrava-se num edifício igual a todos os outros, o que é normal nesta cidade. Tinha um Pub (bar inglês) no rés-do-chão e três andares de quartos. Como prevenção fizemos uma reserva de uma semana, a qual pagámos adiantada, para um quarto de oito camas que era o menor que tinham disponível.
Não foram precisos mais de cinco minutos para nos arrepender-mos. Assim que entrámos no nosso quarto apercebemo-nos que iríamos passar a noite com cinco gajos aos quais eu insisto em chamar Hooligans. Tinham um aspecto grosseiro, alguns chegavam mesmo a ser abusivos. Eram de New Castle, e encontravam-se ali por motivos de trabalhos... as obras do outro lado da rua. Eram barulhentos e tinham o quarto infestado com um cheiro incomodativo.
Neste momento, a ideia de uma noite bem passada estava completamente fora de questão. Tenho a certeza de que a Andreia pensou o mesmo devido a algumas trocas de olhares que fizemos. No entanto, a opinião que ela formou destes companheiros de quarto foi um pouco diferente da minha, considerou-os simpáticos.
Decidimos rapidamente pedir na recepção para nos mudarem de quarto. O que foi o melhor que podia-mos ter feito. A companhia do novo quarto era bem mais reconfortante.
Conhece-mos um rapaz americano, gordinho, simpático e cómico. Contou-nos que estava de passagem por uma noite, pois no dia seguinte partia para a Índia onde ia ao casamento de um amigo.
Conhecemos, também, outro room made que chegou, apresentou-se como Murray e pouco depois deitou-se.
Temos também um companheiro de quarto mistério. Entrou a meio da noite e sai cedo, não sabemos quem é mas alguém dormiu naquela cama.
Esta foi uma noite fácil de adormecer devido ao cansaço. Nem o facto dos lençóis terem um aspecto sujo mesmo depois de lavados nos impediu de dormir.